quarta-feira, 14 de julho de 2010

Amar alguém

Arnaldo Antunes é outro contemporâneo fundamental para mim. Sua poesia é livre e passeia de Bandeira aos irmãos Campos com a mesma naturalidade. A poesia e a música se tornaram cada vez mais próximas dentro da nossa cultura. Arnaldo é um artista ímpar com lindas participações em uma gama de projetos bem variados. Lançou um livro chamado as coisas ilustrado por sua filha Rosa, então com 3 anos. Ele declamava as poesias e ela desenhava as imagens que o poema fazia na sua cabeça. Titãs, Tribalistas, 10 livros, uma carreira musical maravilhosa tudo isso faz Arnaldo Antunes Fundamental. A poesia que escolhi está em seu último livro: “n.d.a”, escolhi depois de conversar com muitos amigos e eles associarem a poesia de Arnaldo basicamente a poesia concreta. Ledo engano! Arnaldo é um artista livre e de muitas facetas.
Amar alguém só pode fazer bem
Não há como fazer mal a ninguém
Mesmo quando existe outro alguém
Mesmo quando isso não convém
Amar alguém só pode fazer bem
É coisa que acontece sem razão
Embora a soma cause divisão
Amar alguém só pode fazer bem
Não se decide amar e nem a quem
Ninguém comanda a tentação que tem
O cupido não divulga quando vem
Deixando o alvo tenro e sem porém
Amar alguém só pode fazer bem
Seja uma pessoa só ou um harém
Se não existe algoz e nem refém
Amar alguém só pode fazer bem
Amar alguém não tem explicação
Não há como conter um furacão
Os corpos vivos sofrem atração
Apaixonados não têm coração
Amar alguém só pode fazer bem
Mesmo se fizer mal também
A eternidade nunca diz amém
Desejos avassalam sem perdão
Querer acaba quando já se tem
Amar é só continuar querendo
Embora cause tanto sofrimento
Amar alguém só pode fazer bem
Amores vão embora, amores vêm
Amores vãos, amores para sempre,
Se nosso corpo todo vem do ventre
Amar alguém só pode fazer bem
Mesmo que comentem e condenem
Mesmo que destratem com desdém
Só pode fazer bem amar alguém 
Por isso então não chore mais, meu bem

9 comentários:

Ribeiro Pedreira disse...

o AA é de fato icônico.

Rodrigo Braga disse...

Sem dúvida Ribeiro.

Zélia Guardiano disse...

Amigo Rodrigo
Nota mil para você, que não erra! Belíssimo post! Quem não vai se alegrar com Arnaldo Antunes?
Grande abraço!

Rodrigo Braga disse...

Oh zélia! Muito obrigado! Adoro quando vejo que tem algum comentário seu aqui. Sempre abrilhanta as postagens!

Carol Sakurá disse...

Arnaldo é um poeta contemporâneo,realista e não sei porque identifico um 'quê' de poesia marginal.
Nesta semana o magnífico Paulo Moura nos deixou.Acorde triste e dissonante!
Beijos procê,uai!

Rodrigo Braga disse...

Ai Carol nem me fala! Estive com o Grande Paulo há menos de dois meses e consegui (enfim!) dizer a ele o quanto sua música era significativa (tantas coisas queremos dizer e faltam palavras...). Muito gentil e dono de um sorriso humilde ele ficou tímido! Senti a morte dele e aproveito sua lembrança para uma breve menção. Posteriormente vou fazer uma postagem homenageando essa doçura que nos abençoava enquanto soprava seu clarinete. Quanto ao Arnaldo, sim acho marginal também. Não existe nada mais marginal que buscar a liberdade e isso ele faz o tempo todo em seu trabalho.

Um beijo enorme e obrigado pela visita.

Flávio Morgado disse...

Arnaldo Antunes é o rosto da poesia atual. Não há discussão de liberdade quando o teor é a experimentação. Há muito tempo, por iniciativa de grandes movimentos, e aí se destaca o modernismo mais radical, a poesia desce do Monte Parnaso, se afasta de seu estatuto de "A escolhida", pra cair na mão curiosa. Como qualquer ruptura que traduz um choque estrutural, e por sua vez permite novos atores, num primeiro momente é desastroso. Mas que por naturalidade, a poesia chega as mãos de um curioso de muito talento, pode ser experimentada em todas as suas faces, por alguém que realmente a conhece, mas nem por isso a canoniza. Arnaldo Antunes é natural.

F.M.

[ rod ] ® disse...

Disse recentemente no twitter: "O amor é possível, eu sei! Só não é fácil." e como não pensar o contrário? abs meu caro!

Rodrigo Braga disse...

É isso aí Flávio! E [rod] Obrigado pela visita e apareça mais vezes!