sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ao querido Walter Alfaiate

"E mais uma voz se cala
E tudo se prova perecível
Indizível pensar na falta
Mesmo sabendo que viver é possível."


Adeus voz aveludada, timbre ímpar! Um sambista tem que ter talento e caprichar na indumentária!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Soneto às avessas








Ninguém deve amar um poeta agora
Se amar é saciar a sede da alma
Impossível beber em um copo que transborda

O sentimento só tem valia se nos faz bem
Ninguém quer se afogar onde o rio deságua
Impossível então amar esse alguém

Impossível é viver nessa entropia
Possível é admirar o caos
Impossível é querer amar um dia
Quem escreve sobre o bem e o mal

Não quero ser esse poeta da solidão
Não quero ser poeta da forma que escuta
Se quiser me nomear poeta então
Que eu seja o escritor filho da puta
Postagem com um sabor especial pela presença dessa deliciosa parceria de Elton Medeiros com Tom Zé  executada maravilhosamente por esse monte de craques que só nossa música poderia produzir.
Obs: Zélia, queremos mais!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

“Varium et mutabile"

A diferença é algo fundamental e é muito bom que exista. Muitas pessoas não sabem conviver com ela e talvez o que eu acho pior, não conseguem admirá-la. Dedico esta postagem a todos que têm opinião forte. Certos ou errados (embora sejam palavras curiosas) pensam e se posicionam. Cresci com minha mãe me incentivando a pensar e buscar um olhar meu, mesmo que desagradasse a maioria das pessoas. Vivemos uma época com uma igualdade burra onde todos têm que concordar com tudo. Quando a pessoa tem um olhar pessoal, uma idéia na contramão do senso comum logo vira o “chato”. Tom Zé disse certa vez que tudo que é bom está no passado e é verdade, pois o futuro se mostra cada vez menos capaz de ousar. Estamos ficando caretas em uma unidade intelectual que nos levará a mediocridade.
Dedico esta postagem aos resistentes Claudio Renato, Professor Hélio, Priscila Vilela e em outro prisma para Thiago Nogueira e Enéas Jalles.

“Varium et mutabile"-(Coisa)inconstante e mutável - Palavras de Vigílio(Eneida,IV, 569), aplicadas por mercúrio à fama, para fazer Enéias deixar Cartago, onde prendia o amor de Dido.

“Varium et mutabile"

Eu que nasci do samba e honro o sangue dos meus ancestrais
Eu que sou filho de bamba e respeito a fama dos meus Pais
Eu que sou de tamanha força vindo da moça e do algo mais
Eu que escrevi minha história juntando a bola com papel e lápis
Eu sou um novo quilombola aprendi na escola a quebrar grilhões formais
Não me venha autuar, julgar e condenar pelo que imagina que eu possa ser
Pois minha trajetória me fez uma coisa nova que ainda não consegue descrever
Tenho tato e sinto tudo cada vez mais com os meus anos
Meio branco, preto e mulato com opinião forte tipo Caetano
O que digo e penso não espero ser politicamente correto
Em um mundo torto todo mundo pensa estar certo
Tudo que escrevo agora poderá ser lido amanhã de cabeça virada
Minha mente pulsa e se renova a cada madrugada



...estamos perdidos na mata andando em círculos...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

1 Ano de Samba Suburbano!!!



Nesse 2 de Fevereiro dia de mamãe Sereia estamos comemorando 1 Ano de Samba Suburbano e nosso Blog vem comemorar em três atos. O Primeiro segue a série "Grandes nomes do Samba". Dessa vez Com Clóves do Violão, uma grande influência na minha vida. O segundo ato vem com uma homenagem de Moacyr Santana, maestro que domina o clarinete como poucos, para mim em uma micro-biografia e depois um breve balanço desse ano de Samba Suburbano.







1º Ato


Grandes nomes do samba (Parte 2)- Clóves do Violão

Cloves do Violão, Sebastião Cloves, mineiro de Barão do Monte Alto (MG), onde começou seu estudo de música, teve sua primeira participação musical na Banda de Música de Cachoeira Alegre (arraial próximo a Muriaé, MG) aos nove anos de idade. Tocava prato na banda principal e trompete na segunda banda (era o mascote da banda principal).
Criado em colégios internos e por todos onde passou, participou de movimentos musicais até chegar ao Rio de Janeiro em 1956, morando no Estácio. Logo fez amizade com compositores da Escola de Samba São Carlos hoje Estácio de Sá (Velha, Esticadinho, Naval, Oton Branco, Darcy, Oliviel e muitos outros). Mudou-se em 1963 para o Bairro do Engenho Novo aos pés do Morro da Matriz (Morro mencionado por Noel Rosa em uma de suas composições "Salve Estácio, Salgueiro e Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz...") onde residiu até o fim.
Cloves do Violão, como ficou conhecido no meio artístico, é uma referência na ala de compositores do G.R.E.S. Estação Primeira da Mangueira, onde ingressou em 1967. É o introdutor do violão em uma quadra de escola de samba, quando chegou em sua escola (Estação Primeira de Mangueira) em 1966.

Da Escola Missionária de Muriaé, onde deu os primeiros passos no conhecimento musical, passou por professores como Horondino Silva, Medeiros Jr. , e Claudionor Cruz, tornando-se musico profissional em 1975 (OMB 13732).
            Sempre foi movido pela paixão de poder passar o que aprendeu da sua profissão àqueles cujo acesso ao conhecimento da Música encontra a barreira da pobreza, o que, infelizmente não é fato raro em nosso país. Iniciou este trabalho em sua casa, (endereço acima) mas não pode continuar porque o barulho que as crianças faziam incomodava suas filhas Alessandra Carla, Ana Claudia e Araceli Cristina, pois que as mesmas estavam em épocas de escolas e faculdades e aos sábados (quando era ministrada as aulas) as crianças as incomodavam com o barulho dos instrumentos. Em 1998, mais precisamente em primeiro de Maio, aproveitou à oportunidade tão esperada de alugar uma casa na Rua Indígena, 62, na Penha Circular, Tel: 3888-4743. montando assim a sua sonhada Escolinha de Iniciação Musical para crianças carentes. Assim, desde aquele ano, funciona no mesmo local supracitado o "Meu Kantinho Centro de Cultura", apesar de todas as dificuldades financeiras que se apresentam.





Quanto ao seu currículo profissional, Cloves do Violão foi, durante 17 anos, músico exclusivo do cantor Moreira da Silva; por 10 anos, diretor musical do Produtor Cultural Albino Pinheiro. Trabalhou com o cantor Jamelão até o final de sua trajetória musical, acompanhando-o inclusive nos desfiles do G.R.E.S. Estação Primeira da Mangueira e em Shows pelo Brasil até sua última apresentação.

 
Cloves do Violão foi o responsável pela a introdução do VIOLÃO DE SETE CORDAS em um desfile oficial de escola de samba, quando em 1967 desfilou pela primeira vez em sua ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA, (ENREDO O MUNDO ENCANTADO DE MONTEIRO LOBÁTO). 




Foi Diretor do Grupo Regional de Choro SAPECA, o Grupo era um dos preferidos do Jornalista e Produtor Cultural Haroldo Costa, participando de vários projetos musicais.Também acompanhou outros intérpretes, como, Carmem Costa, Dominguinhos do Estácio, Raul de Barros (Trombonista), etc. Foi homenageado na câmara de vereadores do Rio De Janeiro e faleceu um pouco depois de Jamelão e sua morte não foi muito divulgada. Conheci esse mestre da música e fui discípulo e amigo dele e sei o quanto lutou para manter seu ponto de cultura, o Meu Kantinho Centro de Cultura. Na verdade lutou pela cultura em geral, pois nem sei quantas vezes ele gritava: “Vamos manter as tradições”. Foi lá que eu, um jovem e inexperiente compositor aprendeu executar clássicas polcas, choros, sambas e frevos. Lá que senti os acordes e melodias de Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, além de clássicos nacionais e internacionais. Gostaria nesse 1 ano de Samba Suburbano lembrar esse que dentre tantos mestre do Samba ajudou na minha formação como compositor e principalmente como homem. 
Esse nome talvez não seja conhecido pela maioria, pois muitos mestres não chegam ao “sucesso” do Faustão ou das FMs. Nem por isso deixam de ser sucesso com o povo brasileiro. Zeca Pagodinho é um exemplo claro, sempre foi sucesso com o povo. Suas apresentações sempre foram repletas de gente cantando suas canções de modo uníssono! Hoje ele é um artista que além de fazer a cabeça do povo faz da mídia, mas mesmo que não fizesse seria grande do mesmo jeito. Clóves foi grande mesmo sem a mídia e quem me dera chegue a ser a terça parte do que esse homem foi. Ouvi Jamelão dizer que Clóves era sua orquestra. Certa vez quando se apresentavam no réveillon de Recife aconteceu uma coisa curiosa. A organização da festa tinha chamado uma série de artistas, Noite Ilustrada, a Orquestra Sinfônica de Recife, Jamelão e uma estrela internacional que prefiro não citar o nome. O problema era que a tal estrela tinha que cantar cedo, pois precisava estar no RJ para fazer o Show da virada na praia de Copacabana. Então a organização montou o espetáculo da seguinte forma: Noite Ilustrada, O tal astro, a orquestra sinfônica e Jamelão. Antes de Jamelão entrar com Clóves chegaram para eles nos bastidores e disseram: Nossa que maldade com vcs! Uma estrela internacional depois uma orquestra com dezenas de músicos e só vocês dois iram encarar uma platéia de mais de 100 000 pessoas em um palco gigante! Jamelão respondeu daquela forma que todos conhecem, “O PROBLEMA É DELES!”. Naquele palco enorme só os dois...pareciam duas formiguinhas e uma platéia hostil e barulhenta os recebeu. Quando o mestre dedilhou o primeiro acorde e Jamelão soltou sua voz a platéia se calou paralisada frente a dois ícones e naquele instante o mundo parou para mais de cem mil pessoas durante as quase 2 horas de apresentação.
O Samba suburbano deixa uma imagem rara do mestre em ação
 

2º Ato
A Biografia de um jovem sambista 
Por Moacyr Santana (Maestro)




Rodrigo Paulo da Silva Braga nasceu no bairro da Lapa (RJ) e foi criado no Bairro da Penha (RJ), cresceu influenciado por todo clima suburbano. Da bola de gude às pipas no céu.

 

As trilhas sonoras do futebol de rua, dos muros pulados, dos namoros escondidos vinham direto de fontes como uma Escola de Samba local chamada Tupi de Brás de Pina, do Cacique de Ramos, dos pagodes recheados de bambas que ocupam o seu espaço merecido na mídia nos dias de hoje. Tudo ali, bem pertinho, criando na cabeça do menino Rodrigo uma vocação onde já aos doze anos de idade o faziam dedilhar as primeiras notas em um violão emprestado de um amigo.
O poeta também já houvera nascido nos primeiros anos de escola, onde participou como vencedor em diversos concursos de poesia e redação da região.
Com uma avó mãe de santo e a outra extremamente católica, Rodrigo vive sua religiosidade de forma bem democrática, entre as missas na singela igreja Santa Cecília (padroeira dos músicos) e os terreiros de Umbanda. Contatos fundamentais para formação do compositor que crescia entre as notas sacras e os sons de atabaque. Já nesse momento encontrou em um grupo chamado vigilantes da paz e o articulador cultural Sérgio Dutra que agiu como incentivador para o que viria surgir depois na vida desse jovem poeta.
Rodrigo foi ritmista da Estação primeira de Mangueira (sua escola de coração) e em uma amizade começada em um terreiro de umbanda com o grande baluarte da Mangueira Preto Rico é apresentado a uma pessoa fundamental para sua formação musical: Clóves do Violão.
Clóves era o responsável por introduzir o violão nos desfiles de Escolas de Samba, Fiel escudeiro de Jamelão, Compositor da pesada, parceiro de Padeirinho, um dos maiores 7 cordas do Brasil, foi seu mestre e formou o músico Rodrigo. Clóves comandava o Meu Kantinho Centro de cultura e era um defensor das tradições musicais Brasileiras. Lá Rodrigo conheceu o saxofonista Anderson Lucena(Neto Brittes, o netinho da Mangueira) e convidou três amigos ritmistas da Mangueira: Fabinho, Diego e Thiago para tocar. Em uma formação de cavaquinho, Sax, Pandeiro, Surdo e Tamborim os cinco meninos formaram um grupo chamado Risco de Pemba, cujo som tinha uma vitalidade ainda não vista no cenário musical Brasileiro.
Rodrigo segue cantarolando seus versos cheios de lirismo e malandragem dignos de um real aprendiz dos grandes Bambas desse país.
3º Ato
Nesse  1 Ano de Samba Suburbano muita coisa aconteceu. O Blog procurou ser a voz de um sambista de subúrbio, na verdade acho que serviu para ajudar a quebrar o clichê imposto pela mídia sobre nós. Muitas pessoas me pedem canções no blog, mas estou aprendendo a dominar as ferramentas necessárias para isso e será um dos meus focos para esse segundo ano. Gostaria de agradecer aos leitores que me acompanham e dizer que escrevo para eles. Aos amigos que não estão mais presentes dou a eles sempre meu primeiro brinde, aos novos amigos deixo o convite para uma longa e sincera amizade. Aos amigos presentes deixo meu coração e como escreveu Seginho Meriti e Eri do Cais: “Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu!”