segunda-feira, 26 de abril de 2010

Música instrumental

Para Jaques Morelenbaum

Quero agora um novo mundo

Um mundo de possibilidades

Como mergulhar no mar profundo

Ou plainar sobre todas as paisagens


Viajar sem dinheiro e sem passagem


Quero aquilo que nem pensava que existia

Impedir-me de algo será meu flagelo

Soltar-me ao mundo será minha alegria

Com o espírito cada vez mais singelo


Sorrir é tudo que espero


Quero extrapolar todos os limites

Dizer não à palavra que faz mal

Fora à letra que restringe

Quero abstração total


Quero apenas música instrumental


Quero o fim de todas as barreiras

Da minha labuta que é minha desdita

Para a mente adejar afora às cercas

Perdendo-se para se achar a cada esquina


Nunca se finda o plano de ir mais longe ainda


Quero inclusive plainar contigo

Desde que respeite a liberdade

Seremos penas cujo lirismo beija o bico

Muito além da mentira e da verdade


Para isso é preciso reciprocidade


Quero querer tudo que não quero

Não o que não quero por ojeriza banal

Quero o bolero rasgado pelo violoncelo

Sem letra para abstração total


Minha música pode até ter letra

Mas minha cabeça é música instrumental



3 comentários:

Flávio Morgado disse...

O velho chavão de que "a dor do poeta não interessa a ninguém, a não ser que bem escrita", é contudo uma verdade, batida, mas que serve de parâmetro para que aqui eu possa dizer que o que li é poesia. Poesia que grita nas rimas calculdas, poesia que expõe o poeta lendo o leitor, poesia de quem não precisa se afastar da música para "canonizar-se" num poema.
Quanto ao vídeo, só me restou uma saudade imensa de Brás de Pina, lembrei do Clóves, lembrei da Igreja, da tamarineira. Perfeito: seu melhor poema com sua melhor herança, afinal, não há poesia sem lembrança.

F.M.

Anônimo disse...

Desejos, trabalho, casamento, versatilidade, o poema fala de tudo. Até de música.

Parabéns

Ciro

Carol Sakurá disse...

Lindo!
Acordes dissonantes são as notas do meu coração.
Beijos!