segunda-feira, 26 de abril de 2010

Música instrumental

Para Jaques Morelenbaum

Quero agora um novo mundo

Um mundo de possibilidades

Como mergulhar no mar profundo

Ou plainar sobre todas as paisagens


Viajar sem dinheiro e sem passagem


Quero aquilo que nem pensava que existia

Impedir-me de algo será meu flagelo

Soltar-me ao mundo será minha alegria

Com o espírito cada vez mais singelo


Sorrir é tudo que espero


Quero extrapolar todos os limites

Dizer não à palavra que faz mal

Fora à letra que restringe

Quero abstração total


Quero apenas música instrumental


Quero o fim de todas as barreiras

Da minha labuta que é minha desdita

Para a mente adejar afora às cercas

Perdendo-se para se achar a cada esquina


Nunca se finda o plano de ir mais longe ainda


Quero inclusive plainar contigo

Desde que respeite a liberdade

Seremos penas cujo lirismo beija o bico

Muito além da mentira e da verdade


Para isso é preciso reciprocidade


Quero querer tudo que não quero

Não o que não quero por ojeriza banal

Quero o bolero rasgado pelo violoncelo

Sem letra para abstração total


Minha música pode até ter letra

Mas minha cabeça é música instrumental



segunda-feira, 19 de abril de 2010

2010- O ano em que faremos contato


Santos me protejam
Mantos me cubram
Orixás me guiem
Lanhos que curem

Marcaram minha alma
Mataram minha calma
Ferindo minha pele
Pediram que me rebele

Faltas leves, prisão a ferro na solitária
Por uns cinco dias somente a pão e água
Repetindo, no mínimo seis dias para negrada
Faltas graves, pelo menos vinte e cinco chibatadas

Rio de Janeiro uma linda e francesa capital
São Paulo e Minas Gerais um potente arsenal
Sai Nilo Peçanha entra Hermes da Fonseca
E 250 em Marcelino inicia nossa peleja!

Cantar! apesar da covardia
Apanhar! alimentou minha rebeldia
Havendo novos grilhões a ferir
Levanto-me, pois sou filho de Zumbi!

2010 o ano em que faremos contato
Ano do tigre é um feliz aniversário
Peço palmas exaltadas pelos 100 anos
Da revolta da Chibata, salve João Cândido!


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Féféréféfé

Este mês de abril dedico todas as postagens a São Jorge. É um mês onde reflito sobre a fé. Não tenho religião específica, minha religiosidade é fruto de tudo que passei e dos lugares onde andei e vivi. Refletir sobre a fé é algo que não é exclusivo meu, acredito que todos os leitores passem pelos mesmos dilemas. O nome do poema é Féféréféfé, pois é um cantar da minha infância, brincava cantando com as palavras monossílabas, sempre gostei da sonoridade delas.


Essa noite tive um sonho
Acordei suado  
Era um sonho medonho 
Levantei pálido 
Como garoto bisonho 
Olhei para o lado 
Era um tal Santo Antônio 
Que me mandou um recado

Outro dia estava perdido
E o céu escureceu 
Sem minha mãe eu menino 
Nem sabia o que era Deus 
De grande fiquei pequenino 
Quando um guerreiro me socorreu 
Pediu que eu tomasse tino 
Subiu no Cavalo e deu adeus

Ainda hoje me pergunto 

Para que existe a fé 
Religião só dá tumulto 
De Jesus, Oxalá ou Maomé 
O Kardec explica tudo 
E não sabe como é 
Vejo que apenas para os corações puros 
É reservado um bocado de axé!


terça-feira, 13 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Ogum no samba

Essa letra foi feita pelos filhos de batalha Rodrigo Braga e Flávio Morgado para homenagear São Jorge. Causa-me um encanto tremendo a energia presente em todo nascer do sol, energia presente de forma ímpar na alvorada de São Jorge. Gosto da letra e da música, a palavra cantada propicia joguetes que expandem todas as possibilidades que a palavra escrita já nos dá dentro da língua portuguesa. “Toda malandragem vem a se curvar” e “ Toda malandragem, venha se curvar!” Presentes em uma só frase, gosto disso. Depois, “Vem iluminar a nossa banda”. Normalmente, banda, nesse sentido se designa a um grupo de fé nas religiões de descendência africana, aqui aparece como um grupo de fé, mas descendentes de várias descendências. Um grupo cuja corrente se faz dentro da nova cultura carioca, talvez cultura carioca simplesmente descreva essa “banda”, pois a palavra nova é um tanto presunçosa nesses dias em que vivemos..

Ogum no Samba (Rodrigo Braga / Flávio Morgado)

Capacete prateado
Tem a luz que me alumia
Sou um homem de pecado e ele é minha estrela guia
Sacode terreiro que é alvorada
É a primeira luz que no céu desponta
Se eu envergo mas não quebro o tempo inteiro
É porque eu tenho o guerreiro contra essas muambas

Refrão
Vem, vem, vem iluminar a nossa banda
Vem, vem, vem rompendo o céu de Aruanda

Peço a todos os bambas que respeite o santo que é orixá
Quando Ogum se apresenta no samba
Toda malandragem vem a (venha) se curvar
O primeiro gole é do santo
E o beijo é no manto encarnado, vermelho
Hoje é 23 de Abril
Salve São Jorge Guerreiro

É no trabalho e na força do homem que a essência de Ogum resolveu ir morar
Está além de qualquer ciência e não há doutor que consiga explicar
Não importa a religião, filhos de batalha do seu padroeiro
Saravá Ogum na Umbanda
Salve São Jorge Guerreiro