quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sinopses

Olhando a mesa da sala se vê envelopes
Outrora eles habitavam as mãos do carteiro
Pouco antes de habitar a caixa de correios
Cartas sempre serão sinopses.

São sinopses da realidade
Antecipam o sentir a vida
Mesmo se realidade não for verdade
Sinopses do porvir de amor, surpresa ou despedida

Mas o que diriam os símbolos das falas?
A ansiedade se esvai ao manuseá-las
Contas, contas e mais contas
E desmorona mais um faz-de-conta

Não há lugar mais para bobos!
Nesse mundo veloz que nunca pisa no freio
Há águias devorando pássaro novo
Ninguém mais bota carta no correio

Correr para não se atrasar
O tempo é dinheiro!
Correr para manter a forma
Correr!
É o que faz o mundo inteiro

É preciso se atualizar
Não escrever cartas em folhas de caderno
Fazer jogging para relaxar
Habitar em fim o mundo moderno

Esquecer o correio e incorporar novos vícios
É hora de calçar o tênis para o exercício
E correr diariamente por entre edifícios.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Confronto


"Fragmento de um diálogo de uma peça que estou preparando".

(Poema para duas vozes)

Já não sou a mesma mulher
A vida vale quando se quer
E com você não quero mais
Ser essa outra mulher

Só se é outra mulher quando se quer
Não amei Carol, Eva ou Ester
Amava a antiga mulher
Que queria viver o quanto puder

Não há reconhecimento quando chega o fim
Ando triste e você nem olha para mim
No seu mundo de certezas e de sofá
De esportes, política e bar

Não tenho culpa se não há sorrisos
Muito menos se não há amigos
A vida vale sim
Por isso não entregue ela para mim

A culpa sempre é toda minha
Nunca foi diferente
Pobre da mulher que sente
Que nega sua natureza e não mente

Não existe vítima e algoz
A vida é linda quando somos nós
É o seu deixar para depois
Um mais um definitivamente é dois

A vida vale sim
Não venha entregar ela para mim
Sim, a vida vale sim
Não venha roubar ela de mim

Temos que ter essa conversa?
Das palavras que evitamos?
Será o fim da controvérsia?
Será que nos amamos?


Quanto tempo ainda temos?    Quanto tempo ainda temos?
5 minutos ou a vida inteira?     5 minutos ou a vida inteira?
Dá tempo de ir à feira?                 Dá tempo de ir à feira?
Está vazia a geladeira!                   Está vazia a geladeira!

 

domingo, 26 de setembro de 2010

Geraldo Vandré no Passavante

Nada do que vi foi tão pertupador nos últimos dias do que  essa postagem do Passavante:


Obrigado a todos pela visita.

A postagem do Passavante é muito significativa pois é sobre um dos maiores enigmas daquela época.
Geraldo Vandré jamais foi esquecido, mas se negava a falar já há anos.

Várias tentativas foram feitas para entender talvez a maior dentre as duas lacunas entre MPB e Regime Militar. A outra grande lacuna seria o boicote a Simonal.
Como tudo daquela época, existe uma parcela entre governo e sociedade.
Mas até onde vai o que?
Foi perguntado tudo que sempre pretendíamos perguntar a Vandré, caso ele resolvesse falar um dia.
E esse dia chegou...
Simplemente imperdível a postagem do Passavante.



"...
Ernesto Che Guevara
teu fim está perto
não basta estar certo
para vencer a batalha
Ernesto Che Guevara
Entrega-te à prisão
não basta ter razão
pra não morrer de bala
Ernesto Che Guevara
não estejas iludido
a bala entra em teu corpo
como em qualquer bandido
Ernesto Che Guevara
por que lutas ainda?
a batalha está finda
antes que o dia acabe
Ernesto Che Guevara
é chegada a tua hora
e o povo ignora
se por ele lutavas 
..."
(Fragmento de "Dentro da Noite Velox"-Ferreira Gullar)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Máquina de Fazer Poemas

A máquina de fazer poema às vezes para
Por isso o Poema pode até ser de encomenda
Mas nunca com hora marcada

A máquina não é a álcool ou gasolina
                                                     Prozac
                                                              Morfina
Em arte o start se dá no momento
Que uns chamam de inspiração
                                            Outros
                                                    Alumbramentos
E a aspiração do poeta
É tão somente a tradução desse acontecimento
Já chamei um técnico
Tentei eu mesmo consertar
Sei que não é ético
Mas procurei ajuda no Bar

Todos tinham um dizer
Ninguém o solucionar

Sem saber aonde ir
Sem saber o que buscar
Pensando em sumir
Pensando em gritar

E em um canto
                      Escondido
Desse mesmo bar
Com sua caninha
                          Um velho a me olhar
Barbudo e descabelado
                                Sorriu
                                       E proferiu 
                                                    Sem pestanejar:
“Meu filho, não adianta fugir ou tentar reparar
A máquina de fazer poemas funciona quando tiver que funcionar!”

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sinto o Chão

Antes era fixo
Hoje sou provisório
Sem medo de errar
                             Sigo
                                   Errante
Faço
               E
Desfaço
                             Malas
                                     A todo
Instante
                             Nada
                     É
                             Como
Antes
Nem o sim
Nem o não
                Sigo a sina da canção
Improvisada
Sinto o chão 
                  E mais
                                                        Nada
A terra berra
Através
Dos meus pés
Nus
Na areia da praia
Minha alma é azagaia
Arremessada pelo
                        Berro  
                        Quero
Mais é que ela
                    Caia
Na gandaia

E que a rotina
                     (Pobre menina)
Morra
        Na tocaia