Escutei por anos o lindo disco "Ganha-se pouco, mas é divertido" em que a Cristina Buarque interpreta Wilson Batista. Escutava o samba "Tenho que Fugir" e viajava nas palhetadas de cavaquinho ocupando os espaços deixados pela melodia. Eu acostumado a escutar e tocar o cavaquinho bem retinho e redondo acabara de tomar um susto! Da mesma forma que tomei ao ver o violão 7 cordas do Clóves que por vezes buscava nos contra-pontos caminhos menos óbvios do que a maioria dos instrumentistas. Aquele cavaquinho ciscava também como fazia Garrincha, Canhoteiro e hoje faz Neymar. Totalmente escorregadio e ensaboado. Ginga, finge que vai pra lá e vem pra cá. Acelera, pára vai devagar e corre de novo. Fundia minha cuca aquele toque! Era Geraldo Pereira, era Padeirinho, era o atabaque do André, era do drible do Felipe, eram as frases do violão do Dino só que tudo junto. Parece que não vai combinar e combina perfeitamente. Aquele cavaquinho era de fato uma verdadeira Bossa-Nova. Era de uma simplicidade e naturalidade inovadora e eu só queria sair dançando.
Foi um momento especial e eu perseguia aquelas palhetadas que lembravam as do Canhoto (Cavaquinho dos discos do Cartola). Boa parte do que sei sobre esse instrumento foi ouvindo aquelas mãos misteriosas que nunca soube de quem era. Não tinha o disco, tinha uma fita cassete Basf gravada. Mas quase por um acaso descobri a causadora de tal deslumbramento nesse eterno aprendiz de compositor e músico. Escuto falar do impacto que a Bossa Nova causou as pessoas na época, como não era nascido não reconheço tal deslumbre. Mas aquele impacto foi ímpar, tudo ficou diferente. Aquilo foi a minha bossa nova e aquele cavaquinho foi o meu violão do João Gilberto.
Um comentário:
Bonito demais!!!
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