domingo, 23 de setembro de 2012

Amor de longe, benzinho



                Definitivamente posso afirmar que amar a distância é para poucos. Como cantou o grande Cartola: “Amar e gostar só de longe não faz ninguém chegar perto”. Existe a clássica crônica onde o genial Rubem Braga afirma ser impossível amar a distância. Sim, sim é impossível para eles e para mim também. Amar a distância a princípio é coisa cheia de princípios e paciência. E o meu amor nunca teve princípios e muito menos paciência. Eu sou daqueles que não consegue guardar um doce na geladeira para mais tarde. Não sou a pessoa que deixa para contar algo na hora mais oportuna e nem aquela que mede palavras para um amigo. Meu amor é um prato que se come quente com sabor muito exótico. Picante, doce, amargo e repleto de um veneno que se não mata, esfola. Quero sempre devorar a vida, pois tenho a impressão que se não for assim a vida me devora. E por essas e outras eu não seria capaz de amar a distância. É fato que amar a distância é para poucos.
                Mas nesse mundo onde cruzamos com milhares de pessoas todos os dias que nunca mais iremos ver nas nossas vidas existem uma infinidade de vivências e enredos possíveis. E existe um enredo muito especial feito de quem sofre a distância e guarda emoções bem embrulhadinhas em um cantinho da alma para o próximo encontro. Existem amores que possuem um suspiro especial ao tocar o telefone ou receber uma mensagem. É um suspiro diferente do telefonema da namorada da rua de trás porque a rua de trás está ali atrás e pode-se sempre ir ao outro lado do quarteirão.  Existe tempo para maturar as emoções e equacionar os conflitos. Existe sim a saudade, mas essa ao mesmo tempo corrói o peito e alimenta os que têm força par um amor verdadeiro.
O amor a distância é sábio e separa o joio do trigo. Pois paixões avassaladoras inúteis e ilusões se desfazem com muitos quilômetros e algumas tentações dos poucos metros daquela mesma rua de trás.  Como Machado de Assis escrevera outrora: “A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, como o vento apaga as velas e atiça as fogueiras”. Justamente por isso ama a distância é para poucos, poucos amores.
                Repensando tudo fica claro que amar a distância é um capricho do destino que fez o favor de separar grandes amores por terra, céu ou mar. Fica mais do que claro que a distância não importa o que importa é amar. Porque o verdadeiro amor encurta distâncias, compartilha vivências e aproxima sonhos. Amar é ter coragem de carregar um elefante nas costas e matar aquele tão falado leão por dia. E recorrendo ao Machadão mais uma vez: “Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar”!